“Tratar desse tema é desafiador, considerando a percepção tradicional da mulher como figura forte e protetora”, alerta especialista de Joinville.
Você percebeu algo diferente em sua mãe nos últimos dias como mudança de peso, insônia, fadiga ou perda de interesse dela em atividades que eram prazerosas?
Se a resposta for sim, acenda o alerta, pois estes são apenas alguns dos sintomas de que a saúde mental materna não anda bem.
Ao longo deste mês várias atividades foram realizadas para lembrar o ‘Maio Furta-Cor – Saúde Mental Materna Importa’, para conscientizar a sociedade sobre o bem-estar das mulheres, em especial as mães, gestantes e puérperas.
Mas porque devemos falar sobre este tema em outros períodos do ano? Segundo a Psicanalista Karla Françoise, “além de garantir o bem-estar das mães e promover o desenvolvimento saudável das crianças, é necessário que esse público receba o apoio e os cuidados adequados por toda a vida”.
Ainda de acordo com ela, o assunto não deve ser negligenciado e merece atenção devida e investimento por parte da sociedade, pois são vários os fatores e gatilhos que podem desencadear problemas sérios de saúde mental nas mães.
A especialista cita alguns:
– Mudanças hormonais: flutuações hormonais durante a gravidez, o parto e o pós-parto podem afetar o equilíbrio emocional e desencadear problemas de saúde mental. A queda abrupta nos níveis de hormônios após o parto, por exemplo, pode levar ao surgimento da depressão pós-parto;
– Histórico de saúde mental: mulheres que têm um histórico de problemas de saúde mental, como depressão, ansiedade, transtornos bipolares ou transtornos de alimentação, podem estar mais propensas a desenvolver problemas semelhantes durante a maternidade;
– Estresse e pressões sociais: a maternidade é uma fase que traz consigo uma série de estresses e pressões. As expectativas culturais e sociais sobre o papel da mãe, as responsabilidades e as demandas do cuidado com o bebê, as mudanças na rotina e a falta de tempo para si mesma podem gerar estresse significativo e impactar a saúde mental;
– Traumas ou experiências adversas: experiências traumáticas passadas, como abuso sexual, violência doméstica, perda de um ente querido ou trauma de nascimento, podem ter um impacto duradouro na saúde mental das mães. Esses eventos podem ressurgir ou serem intensificados durante a maternidade.
– Dificuldades na amamentação: a amamentação pode ser uma experiência desafiadora para algumas mulheres. A pressão para amamentar, problemas físicos relacionados à lactação, dor ou dificuldades na alimentação do bebê podem levar a sentimento de frustração, culpa e estresse, o que pode impactar a saúde mental;
– Exaustão e falta de sono: a privação de sono é comum na maternidade, especialmente nos estágios iniciais. A falta de sono adequado pode afetar negativamente o humor, a capacidade de lidar com o estresse e a saúde mental como um todo.
No entanto o alerta não precisa ser motivo para pânico.
“É importante reconhecer que esses fatores podem interagir de maneiras complexas e variadas, e cada mãe pode ter uma combinação única de desencadeadores. O apoio adequado, o acesso a cuidados de saúde mental e a conscientização sobre esses fatores podem ajudar a identificar e tratar problemas de saúde mental materna”, finaliza Karla.
Depressão pós-parto
Pode não parecer, mas a depressão pós-parto pode sim desencadear uma depressão contínua, especialmente se não for adequadamente tratada. Esse período na mulher é uma forma específica de depressão que ocorre após o parto, geralmente nos primeiros meses, e pode persistir e evoluir para uma depressão crônica ou recorrente.
Karla explica ainda que é importante que as mães recebam o apoio correto para a depressão pós-parto. O tratamento pode envolver uma combinação de terapia psicoterapêutica, medicamentos antidepressivos (quando necessário e por um curto período de tempo), suporte emocional e mudanças no estilo de vida.
“Quanto mais cedo a depressão pós-parto for identificada e tratada, melhores serão as chances de recuperação e prevenção de complicações a longo prazo”, afirma.
Sintomas
Uma saúde mental materna debilitada pode se manifestar por meio de uma variedade de sintomas e sinais. Cada mulher pode manifestar de forma única, mas aqui estão alguns dos sinais que indicam problemas de saúde mental da mulher:
– Tristeza persistente ou humor deprimido: sentir-se triste, sem esperança, humor deprimido na maioria dos dias e por longos períodos de tempo;
– Ansiedade excessiva: sentir-se constantemente preocupada, ansiosa, tensa ou nervosa, muitas vezes acompanhada de sintomas físicos, como palpitações, tremores ou dificuldade em respirar.
– Sentimento de culpa ou inadequação: sentir-se excessivamente culpada, como se não estivesse fazendo um bom trabalho como mãe, ou ter sentimentos de inadequação em relação à maternidade;
– Mudanças no apetite ou peso: perda de apetite ou aumento significativo no apetite, levando a mudanças no peso corporal;
– Insônia ou distúrbios do sono: dificuldade em adormecer ou manter o sono, mesmo quando há oportunidade para descansar, ou dormir excessivamente;
– Falta de energia ou fadiga constante: sentir-se cansada o tempo todo, com pouca energia para realizar as atividades diárias;
– Pensamentos ou desejos suicidas: Ter pensamentos recorrentes de morte ou suicídio, ou ter desejos de causar dano a si mesma.
É importante observar que esses sintomas podem variar em intensidade e duração. É normal que as mães enfrentem alguns desses desafios durante a maternidade, mas se os sintomas forem persistentes, interferirem nas atividades diárias ou causarem angústia significativa, é importante buscar apoio médico e profissional. O diagnóstico e o tratamento precoces são fundamentais para garantir a saúde mental materna adequada e o bem-estar geral da mãe e do bebê.
Mulher guerreira
Tratar o tema da saúde mental materna na família pode ser desafiador, considerando a percepção tradicional da mãe como uma figura forte e protetora. No entanto, é fundamental superar esses estereótipos e abrir um espaço seguro para discutir a saúde mental da mãe.
A psicanalista dá dicas de sugestões sobre como abordar o assunto na família:
– Educação e conscientização: comece compartilhando informações sobre a importância da saúde mental materna e como ela pode afetar a mãe e toda a família. Explique que a saúde mental não está relacionada apenas à força física, mas também ao bem-estar emocional e psicológico;
– Comunicação aberta: promova um ambiente de comunicação aberta e acolhedora, onde cada membro da família possa expressar seus sentimentos e preocupações. Encoraje a mãe a compartilhar seus sentimentos, medos e desafios em relação à maternidade e à sua saúde mental;
– Quebrando estigmas: converse sobre a importância de derrubar estigmas associados à saúde mental. Explique que buscar ajuda profissional não é um sinal de fraqueza, mas sim de coragem e autocuidado. Destaque exemplos de outras mulheres fortes e bem-sucedidas que também enfrentaram desafios de saúde mental;
– Envolver outros membros da família: Inclua outros membros da família na discussão e no suporte à mãe. Explique como todos podem desempenhar um papel importante no apoio à saúde mental materna, oferecendo ajuda prática, compreensão e encorajando-a a buscar assistência profissional, se necessário.
Quando procurar ajuda
A mãe deve procurar ajuda quando perceber sinais, como:
– Sintomas persistentes: se os sintomas de depressão, ansiedade, estresse ou outros problemas de saúde mental persistirem por duas semanas ou mais e começarem a interferir nas atividades diárias, relacionamentos e no cuidado com o bebê, é essencial buscar ajuda.
– Preocupações com a segurança pessoal ou do bebê: se a mãe tiver pensamentos recorrentes de autodestruição, suicídio ou prejudicar o bebê, é uma emergência e ajuda profissional deve ser procurada imediatamente.
– Isolamento social e falta de suporte: se a mãe estiver se sentindo isolada, sem apoio social ou sem alguém com quem possa compartilhar seus sentimentos e desafios, buscar ajuda profissional pode fornecer o suporte necessário.
Lembrando que essas são apenas diretrizes gerais e que cada situação é única. Cada mãe tem um limite diferente de tolerância aos sintomas e um contexto pessoal que pode influenciar sua decisão de buscar ajuda. O importante é confiar em si mesma e buscar apoio, seja de um médico, terapeuta, psicólogo ou outro profissional de saúde mental que pode oferecer orientação adequada e ajudar a mãe a recuperar seu bem-estar emocional e psicológico.
Prevenção
Embora nem todos os problemas de saúde mental materna possam ser prevenidos, existem medidas que podem ajudar a reduzir o risco e promover a saúde mental durante a maternidade.
Karla lembra de algumas estratégias preventivas:
– Rede de apoio sólida: Construa uma rede de apoio sólida antes e depois do nascimento do bebê. Isso pode incluir o parceiro, familiares, amigos e grupos de apoio para mães. Ter pessoas em quem confiar, que possam oferecer suporte emocional, prático e encorajamento, pode fazer uma grande diferença;
– Cuidado pré-natal adequado: Faça visitas regulares ao médico durante a gravidez para monitorar sua saúde física e emocional. Informe ao profissional de saúde sobre quaisquer preocupações ou sintomas que você esteja enfrentando. Isso permite que você receba o suporte necessário desde o início;
– Educação sobre maternidade e saúde mental: busque informações sobre a maternidade e a saúde mental materna. Esteja ciente dos desafios que podem surgir, bem como dos recursos e estratégias disponíveis para promover a saúde mental. Quanto mais informada você estiver, melhor preparada estará para enfrentar esses desafios;
– Autocuidado: reserve tempo para cuidar de si mesma. Priorize atividades que promovam o seu bem-estar, como praticar exercícios físicos, meditar, ter momentos de lazer, dormir adequadamente e alimentar-se de forma saudável. Lembre-se de que cuidar de si mesma é essencial para cuidar do seu bebê;
– Equilíbrio entre trabalho e vida pessoal: Se possível, busque equilibrar suas responsabilidades profissionais e sua vida pessoal. Defina limites claros e tente estabelecer uma rotina que lhe permita ter tempo para descansar, relaxar e cuidar de si mesma.
Esteja aberta para ajustar as estratégias de acordo com suas necessidades e não hesite em buscar ajuda profissional, se necessário. O alerta vale para as mães, filhos, netos e todos os envolvidos na sociedade.
Quem é Karla
Karla é psicanalista, especialista em funcionamento e agilização do cérebro para mudança de comportamento e alta performance.
Contato
A profissional está disponível para entrevistas através do telefone (47) 9.9773.4917.