Quem é natural de Barra Velha, já conhece a região ou vai só para ‘turistar’, é sabedor da deficiência unânime de opções de lazer na porta de entrada do Litoral Norte de Santa Catarina.
Lugar de terrenos planos, belas praias próprias para o banho, águas mornas e vegetação nativa que encantam ‘os de fora’. Só que os de fora não tem, ‘fora isso’, outras opções para quererem ficar na cidade mais do que um ou dois dias.
Isso porque em Barra Velha não existem belas praças, pontos turísticos agradáveis, shopping, muitas opções de hotéis e tão pouco várias opções gastronômicas ou ‘baladas’ que agradem desde o público jovem ao mais ‘experiente’.
E uma das principais reclamações daqueles que veem de fora para tentar investir na cidade, é o ‘travamento burocrático’ e o curto horário de funcionamento para quem quer investir por exemplo em comércios que ofereçam ‘músicas ao vivo’.
“Sabemos que Barra Velha tem um potencial gigantesco, é a primeira cidade litorânea para quem vem do sudeste e de outras regiões mais acima, mas quando o turista chega aqui não tem quase nada e se vê obrigado a seguir viagem em busca de destinos como Balneário Camboriú e cidades do Vale do Itajaí”, relata empresário Ricely Tavares.
E foi pensando nisso que ele e um grupo de empresários resolveu se unir e investir em mais uma opção para quem quer curtir não só a cidade, mas as belas paisagens ‘beira mar’, uma vez que são pouquíssimas as oferecidas Orla Central e no restante das outras 6 praias ao longo de pouco mais de 20 quilômetros de litoral.
Mas antes de trazermos a novidade, vamos contar como tudo começou: Há poucos mais de três anos o então professor de surf e funcionário público, Ricely, decidiu enveredar para o ramo do empreendedorismo.
Junto com a esposa, a também surfista, e incentivadora do marido Jennifer Giovanna, montaram o ‘Canoa Preta – Conveniência’, inaugurada no dia 04 de maio de 2021. De lá para cá, aliado a muito esforço e foco, o negócio cresceu e virou marca.
O tempo passou e de cliente, Ricely já amigo do também empresário e turismólogo Lauro Barros, à época proprietário do ‘Açaí da Lagoa’ (inaugurado em setembro de 2017), acabaram fazendo um ‘bem bolado’, e ambos se associaram aos dois empreendimentos, até que decidiram seguir apenas com a Conveniência.
Mais de um ano depois, já em outubro, durante um campeonato de Surf no Costão dos Náufragos, os empresários foram convidados para servirem petiscos e bebidas aos participantes do evento.
“Alguém conseguiu o contato do proprietário do quiosque, à época inativo, e alugamos por um final de semana. Tudo deu tão certo que alugamos para o próximo e dali em diante decidimos comprar o ponto [direito de uso pois o prédio pertence à prefeitura] e montamos o ‘Canoa Preta – Quiosque’ e deste então ele funciona durante todo o dia quase todos os dias da semana”, relembra Tavares.
Para Tavares, o que falta hoje na cidade para fomentar e alavancar o turismo, é a contrapartida do poder público. “Vontade nós, os empresários, temos muita, mas falta investimentos da prefeitura, infraestrutura na cidade e principalmente acreditar mais no potencial que nossa região tem”.
Ele cita ainda a deficiência e o abandono atual no município quando o assunto é ‘ponto turístico’: “Quais opções nós temos? A Ponte Pênsil há pelo menos uns 10 anos interditada, a Boca da Barra com praias sujas e um acesso completamente abandonado, cheio de areia e buracos na via com praias sujas”.
E ele continua: “O morro do Cristo tem uma das vistas mais deslumbrantes da cidade e também ficou por meses interditado. Lá seria um ótimo local para um som ao vivo de fim da tarde ou um almoço dançante por exemplo aos finais de semana. Outra opção seria uma vila gastronômica beira mar ou próxima a ele”.
E o empresário finaliza: “São pequenos detalhes que fazem muita diferença. Não precisamos ir longe para dar exemplos de sucesso. A cidade de Bombinhas [distante 80 quilômetros de Barra Velha] é um dos paraísos naturais de Santa Catarina e como isso aconteceu? Com investimento”, finaliza.
Considerado o ‘social-média’ da parceria, o empresário Lauro Barros, há 25 anos formado em Turismo, é outro grande incentivador do fomento no setor. “Concordo com a falta de investimento e corroboro que também falta ainda mais divulgação da nossa cidade para o restante do Brasil e do mundo, em feiras, congressos. Já estive em muitos e não vi nada sobre Barra Velha”, diz ele.
Lauro também citou a Festa Nacional do Pirão criada em 1997. “Na pandemia, o que foi natural, passamos duas edições sem e no ano passado o antigo prefeito [Douglas Elias da Costa – preso em operação do Gaeco] acabou cancelando. Isso é muito triste, porque muitos empresários já estavam se programando para o evento e os turistas também, porque é tradição”.
Sobre a burocratização, Lauro pontua o sonho e investimento dos empresários. “Nessa nossa nova formação, apenas um dos sócios é catarinense, isso prova que quem mais aposta na região somos nós, os migrantes, que estamos não só apostando, mas investindo dinheiro, sonhos e muito trabalho para proporcionar ao turista um “Q” a mais, proporcionar a vontade de estar em Barra Velha, aproveitar o que temos de bom e sair com o desejo de querer voltar”.
CAIÇARAS – E em novembro do ano passado, após a desistência de um outro empresário, Marcos Dias, em continuar tocando o quiosque ao lado de onde hoje funciona o Canoa Preta, as tratativas começaram e nessa terça-feira, 27, de maio, o negócio foi consumado.
Ricely, Lauro e agora com mais um apoio, o do também empresário Ricardo Duarte, compraram o ponto e no dia 08 de junho irão inaugurar mais uma filial do Canoa Preta, o ‘Canoa Preta – Caiçara’, localizado na praia do Tabuleiro.
Ricardo respira e tem na veia o ‘comércio’, filho de pai e mãe e uma primeira geração familiar de comerciantes, desde criança já tem experiência com o público, principalmente na área gastronômica.
“Meu pai me ensinou muito e deixou um legado incrível. Aprendi muito com ele e continuo aprendendo com minha mãe, Neusa Duarte, que tem uma mão incrível quando o assunto é gastronomia. Nossa ideia é fazer do Caiçara um ambiente totalmente familiar, com lanches caseiros, naturais, boa música e em dias programados preparar um prato diferenciado”.
“Como o ‘Canoa Preta – Caiçaras’ tem uma vista fantástica para a praia, também vamos focar numa alimentação saudável, com sucos, vitaminas, açaí gourmet, petiscos que valorizem nossa região e sem dúvida aquele apoio da minha mãe para quem gosta de uma dobradinha e até a feijoada e agora com o início do inverno pratos quentes como sopas e caldos”.
“Outro diferencial, uma vez que já temos na Conveniência e no Quiosque uma identidade musical já definido, será os estilos que vamos oferecer no Caiçaras. Nossa ideia é colocar um ‘forrózinho’, sertanejo raíz e MPB, para buscarmos públicos ainda mais diferentes e tentar agradar a todos”.
Para o empresário Marcos Dias, que passou o ponto para grupo de amigos, não há dúvidas que será só sucesso: “Hoje estou enveredando para outro ramo e sem dúvidas não tinha um trio melhor do que eles para continuarem com o quiosque. Ali, minha ex-esposa e eu construímos não só o ponto, mas relacionamentos. Clientes que se tornaram amigos. Deixei na mão das pessoas certas: trabalhadeiras, honestas e que já moram na região há muito tempo”.
“Desde 2022 eles implantaram sozinhos o Sábado Cultural, com apresentação de artistas locais e regionais, e a cada edição tem sido um sucesso. Eles não estão só fomentando o turismo, estão fazendo história e valorizando cada um que se apresenta no local. Esses aí vão longe”.
CANOA PRETA – O nome Canoa Preta, segundo Ricely, é uma alusão a história de Barra Velha durante a realização de velórios tradicionais na cidade.
“Naquela época, lá na Boca da Barra, quando alguém morria, os caixões eram colocados numa Canoa Preta e o cortejo seguia pelo mar até o cemitério. É um fato histórico que deve sempre ser lembrado, pois ali estavam pessoas que se dedicaram a preservação da história e cultura da cidade, que criaram seus filhos, trabalharam e deram o máximo de si pela região, e nós também estamos fazendo isso”.
