Por decisão unânime, a Comissão da Mulher Advogada da 42ª Subseção da OAB/SC, de Balneário Piçarras, Barra Velha, Penha e São João do Itaperiú, manifestou “solidariedade e irrestrito apoio às mulheres candidatas ao próximo pleito municipal da cidade de Barra Velha”, após ataques misóginos feitos contra as integrantes do processo político local por um cabo eleitoral apoiador do partido PL.
“Independentemente de questões relativas à autenticidade e autoria do áudio que vem circulando e foi amplamente divulgado pela imprensa local, é evidente que a assertiva feita é intolerável tendo, nosso total repúdio”, destacou nota lançada dia 26 de agosto.
De acordo com Emmanuelle Teixeira, presidente da subseção, e Cíntia Wippel, presidente da Comissão da Mulher Advogada da região, ao afirmar que, em Barra Velha, “mulher só se elege com a calcinha no joelho”, o autor da fala, além de ofensivo, agiu de maneira “ultrajante a qualquer sociedade em que vigorem os princípios norteadores de um processo eleitoral democrático.
A Comissão da Mulher Advogada, na mesma nota, expressou “irrestrito apoio a todas as mulheres de Barra Velha que tiveram a coragem e nobreza de disponibilizar seus nomes para concorrer no próximo pleito, na certeza de que têm plena capacidade e competência para figurar como representantes da comunidade em que estão inseridas”.
A fala misógina foi atribuída ao cabo eleitoral Márcio Curinga, de Itajaí, e começou a circular em grupos de whatsapp na semana passada. Curinga, morador de Itajuba, afirmou que Barra Velha seria uma cidade que “não elege vereador nem prefeita mulher”, e valeu-se da expressão chuva “calcinha no joelho” para referir-se às atuais candidatas.
A citação do morador – que seria apoiador da “Coligação Juntos Somos Mais Fortes”, do prefeito atual e candidato Daniel Cunha (formada pelo PSD, PL, MDB e Avante”), atingiu em cheio todas as mulheres, a começar pela primeira candidata a prefeita da história de Barra Velha, Elizabete Tamanini, a Professora Betinha (PT, PV e PCdoB), que considerou “repulsiva” a citação.
“Há uma possibilidade bem remota, assim, a esquecer que vai entrar uma [mulher na vida pública]”, diz Curinga, no áudio. “Nada contra, é uma opinião minha, mas é assim muito difícil, assim, vai entrar lá com a calcinha no joelho, entendeu? Barra Velha não elege mulher, a nossa retrospectiva mostra isso”, segue ele. “Pode ser que eleja, bom, tomara que eleja, independente do partido, mas é muito difícil, muito. Como eu falei, com a calcinha no joelho talvez ponha uma”, completa ele.
A fala do morador, entretanto, não tem confirmação na história local. Barra Velha já teve três vereadoras, duas suplentes que assumiram mandatos e três candidatas a vice-prefeitas em eleições anteriores. Segundo o jornal DIARINHO, Elizabete Tamanini, que na sua chapa, traz outras quatro candidatas a vereadoras – repudiou o fato.
“Diariamente as mulheres no Brasil são alvo de todo tipo de violência, seja física, seja psicológica. É chulo e repulsivo esse comentário desse senhor, que se mostra desclassificado”, acusou a candidata. Betinha disse que ficou ainda mais surpresa por saber a autoria do áudio, pois duas semanas atrás, na gravação de um podcast, conversou com ele sobre a importância da mulher na política e o direito que a mulher tem de estar na poítica, assegurado por lei.
A citação repercutiu ainda em outras candidaturas. Selma Soares, candidata do Podemos pela Coligação “Orgulho e Respeito por Barra Velha”, formada ainda pelo PP, PRD e União Brasil, lançou nota, afirmando que Curinga deveria pedir desculpas em nome de si mesmo e “da chapa política que diz defender”.
O próprio prefeito interino Daniel, em nota, repudiou a citação – mas não abordou o fato de Curinga ser apoiador de um cabo eleitoral de um candidato a vereador pelo PL. Daniel lembrou que em pleno Agosto Lilás, dedicado a combater a violência contra a mulher, a fala de Curinga é inaceitável. “Barra Velha tem em todas as coligações mulheres fortes, guerreiras e comprometidas”, pontuou o prefeito.
Após o vazamento do áudio, o próprio Curinga veio se desculpar, em outro áudio, assumindo a autoria da fala anterior, e alegando que “foi tirado do contexto” e que “quem o conhece sabe” que ele não seria “machista”. “Eu jamais ia degredir (sic) a imagem das mulheres porque sou devoto de Nossa Senhora e tenho duas noras maravilhosas”.
Segundo Márcio, o uso do termo “calcinha no joelho” seria uma expressão equivalente a “com as calças na mão”. “Distorceram as palavras, essa tropa de vagabundos que desvia cesta básica”, apontou ele, citando indiretamente o candidato a vice-prefeito de Thiago Pinheiro pelo PP, Alan Batista, que é réu numa denúncia sobre uso de alimentação pública para compra de votos na eleição de 2020.
Assessoria de Imprensa
Juvan Neto SC 01359 JP
Fotos: Emmanuel Teixeira, presidente da subseção da OAB regional (Divulgação); advogados da Subseção da OAB reunidos (Divulgação); Única candidata a prefeita mulher de Barra Velha, Betinha Tamanini (Divulgação) e Betinha conversando com o agressor Márcio Curigina (Divulgação). Conversa ocorreu dias antes da agressão acontecer.









