Marina da Glória
Mineiração Nilson

sexta-feira, 10 de outubro de 2025

quarta-feira, 8 de outubro de 2025

Marina da Glória
Mineiração Nilson

Projeto Coza Mash Quirida recicla lixo oceânico e dá lição de conscientização ambiental

A praia da Lola, no Centro de Penha, habitat do caranguejo maria-farinha, abraçada pelas professoras Luciana Águida Zimmermann Philippi, Surama Maria de Lima e que há cerca de cinco décadas era quintal da família do Seu Walfrido Máximo Vieira, continua bela, atraente e sedutora.

A praia da Lola, no Centro de Penha, habitat do caranguejo maria-farinha, abraçada pelas professoras Luciana Águida Zimmermann Philippi, Surama Maria de Lima e que há cerca de cinco décadas era quintal da família do Seu Walfrido Máximo Vieira, continua bela, atraente e sedutora. O recanto de natural beleza inspirou Luciana e Surama e foi berço do embrião do Projeto Coza Mash Quirida. O Projeto que aposta e acredita na Educação Ambiental como uma ferramenta eficaz para a conscientização das novas gerações, na luta contra a poluição dos mares, tomou corpo, já visitou várias cidades catarinenses e merecidamente foi reconhecido na Alesc por trabalho educacional.

Saindo da toca

Manhã de sol, com forte brisa do mar. Na praia da Lola, o caranguejinho maria-farinha que estava escondidinho no seu habitat, dá as caras, ou melhor: as garras. Arregala os olhos e vê: os Vieira remando para alto mar.  

Quintal da casa

Na década de 30 do século passado, o Seu Walfrido Máximo Vieira (funcionário da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos); Maria Venina Vieira, a Dona Lola (dona de casa), os filhos, Pedro Paulo, Oscar, Rosemar, Rita, Roseli e Rosa Maria moravam numa casinha de madeira construída bem próxima da orla, da então Prainha de Penha. Eram dias difíceis, mas o sustento estava bem ali. Os mariscos, goiás, buzos, carapebas, robalos, gordinhos, pescadas, lagostas, garoupas, linguados, anchovas, tainhas… e tantos outros frutos do mar.  

Na praia uma canoinha de um pau só, talentosamente esculpida de um tronco guapuruvu. Após algumas remadas dos irmãos Vieira, não tão distante da orla, lançavam a rede ao mar, na esperança que o sustento viria. E certamente viria.  

Os Vieiras também tarrafeavam e escalavam os costões empunhando caniços de bambu, também na esperança de encher os samburás de sargos, marimbaus, galos… Naqueles tempos, era difícil voltarem para casa de mãos vazias.

Logo após as pescarias, os peixes eram escalados, salgados e secos ao sol. Os Vieira usavam um método ancestral de conservação dos pescados para desidratar e ser preservado. Pendurados em varais os frutos do mar se transformavam em “cambiras” – quando o peixe além de salgado é defumado, principalmente tainhas e paratis. Na mesa, depois do processo de desidratação os peixes eram consumidos com pirão de farinha de mandioca, muitas vezes acompanhado de banana assadas ou cozidas.

Penha ainda era pouco habitada, raros eram os veranistas e moradores fixos na Prainha de Penha. Mas, já havia uma preocupação dos Vieira. A poluição do mar. O lixo oceânico que já começa a dar suas “boas vindas”. Walfrido, Dona Lola, e seus filhos e filhas zelavam a praia como se fosse o quintal de casa. Recolhiam as “tranqueiras” como eles diziam. Na época o destino era uma fogueira, que até lembrava as de festas juninas.

O tempo passou, seu Walfrido e Dona Lola se foram para o andar de cima, Oscar, Pedro Paulo e Rita também. Rosemar reside em Piúma, no Espírito Santo. Roseli mora em Florianópolis, na capital catarinense. Já, Rosa Maria foi fazer a vida na cidade de Vila Velha, também no estado capixaba. Constituiu família por lá, e, quando pode visita a tão amada Prainha de Penha, que tem um pedacinho especial para ela, o “Recanto da Lola”. Cantinho da hoje praia da Saudade, que leva o nome em homenagem a sua mãe, que foi protetora e “zeladora” do local.

Saudade da Prainha

Naquela época, quando os Vieira pescavam na frente de sua casa, Penha era apenas a Freguesia de Nossa Senhora da Penha da Enseada do Itapocoroy. Mas em 1934 passa a ser Distrito de Itajaí. A então Prainha de Penha, hoje Praia da Saudade já era referência de por sua beleza natural e ímpar. Não tão distante da sede do Distrito, da igreja Matriz, do cartório e da pequena vila comercial, ali sempre esteve ela exuberante e deixando saudades naqueles que a conheciam. Não é atoa que hoje é conhecida como a Praia da Saudade, que agrega a Bacia da Vovó, Prainha do Meio e Praia da Lola.

Em 1958 Penha conquista sua emancipação político/administrativa e passa a ser município. Aos poucos a então Freguesia cresce, chegam os primeiros veranistas, turistas, banhistas e suas praias paradisíacas começam a ser habitadas por não “nativos”. Os caboclos já não eram mais donos de suas terras. A especulação imobiliária aos poucos vai tomando corpo e a vila vira cidade.

Já naquela época, nas praias de Penha, o oceano deixa seu recado e descarta e lixo produzido por aqueles que deviam ser guardiões do planeta azul.   

Saindo da toca

Manhã de sol com forte brisa do mar! Na praia da Lola, o caranguejinho maria-farinha que estava escondidinho no seu habitat, dá as caras, ou melhor: as garras. Arregala, revira os olhos e vê: duas professoras ambientalistas catando o descarte do mar, ou melhor, do ser humano.  

Pescando plásticos

Após décadas, já no século XXI, lá está a Praia da Saudade impregnando saudades nos que ali passam e desfrutam, de sua beleza rara, com suas águas límpidas, o aroma salgado e a sinfonia de suas ondas deslizando nas areias ou batendo forte em seus costões. As espumas, maresia, o vento nordeste teimoso, lestadas, o terral rapa canela, ressacas, rebojos, a calmaria, o sol ardente e a sinfonia do mar, são os mesmos de décadas atrás. 

Mas foi ali, no Recanto da Lola, no início dos anos 90, que as jovens professoras Luciana Águida Zimmermann Philippi, de Blumenau e Surama Maria de Lima, de Penha se conhecem e se tornam amigas. Luciana, hoje aposentada, lecionava em Blumenau e Surama no Instituto Beto Carrero, em Penha.

Mas, foi em agosto de 2022 em um reencontro, que as duas amigas, descobriram algo em comum. Eram amigas também do meio ambiente e apaixonadas pela Praia da Saudade como os Vieira.

Não demorou para Luciana e Surama tomassem a inciativa de idealizar um projeto para transformar os resíduos “entregues” pelo mar, em arte, além educar novas gerações e alertar sobre a importância de preservar os oceanos e a vida marinha. O objetivo: conscientizar a população, principalmente as novas gerações, tendo as crianças como alvo principal.

Coza Mash Quirida

Nasce então o projeto Coza Mash Quirida, que transforma o lixo oceânico em arte e em oportunidade de criar uma geração mais envolvida com o meio ambiente. O Coza nasce na Praia da Saudade, mais precisamente no Recanto da Lola, próximo do terreno onde viveram os Vieira. O Projeto promove ações de conscientização ambiental com criatividade e compromisso com o planeta. O Coza aposta e acredita na Educação Ambiental.

Eu e Luciana nos encontramos há algum tempo na praia fazendo algo que sempre éramos acostumadas: recolher o lixo que ninguém vê e que as pessoas passam por cima e não reconhecem. Então começamos a pegar esse lixo e transformar em alguma coisa e, depois disso, começou a surgir a ideia do Coza Mash Quirida ”, lembra Surama.

Coza Mash Quirida tomou corpo e de mãos dadas com ambientalistas ou entusiastas da causa, já passou por vários municípios catarinenses, entre eles: Blumenau, Penha, Balneário Piçarras, Florianópolis, Timbó, Pomerode, Porto Belo, Gaspar, Barra Velha, Itajaí, Bombinhas, Bombas, Joinville e também em cidades da Serra catarinense. Luciana e Surama promovem palestras, rodas de conversa, exposições, oficinas pedagógicas, reciclam o lixo e transformam em brincadeiras, brinquedos, quadros e até roupas e sacolas.

A educação ambiental pode ocorrer em vários níveis, desde escolas e universidades até programas comunitários e campanhas de conscientização. Além de promover a conscientização ambiental, a educação ambiental também se concentra em capacitar as pessoas a tomarem ações concretas para proteger o meio ambiente. Muitos educadores ambientais enfatizam a importância da conexão com a natureza, acreditando que isso promove um relacionamento mais saudável com o meio ambiente. A educação ambiental também pode ser uma ferramenta eficaz na luta contra as mudanças climáticas, ao conscientizar as pessoas sobre suas pegadas de carbono e incentivar ações sustentáveis, enfatiza Luciana.

Lembrando que as duas também atuam no Programas Bandeira Azul e Projeto Golfinho das cidades de Penha e Balneário Piçarras.

Garimpando recicláveis

Os materiais garimpados, “pescados” e recolhidos nas praias muitos deles são doados, outros vendidos, com objetivo de dar manutenção ao projeto. Mas, grande parte do então lixo é reciclado e reutilizado de diversas formas.

Guarda-sóis viram bolsas e jaquetas corta-vento; cadeiras de praia, que os banhistas descartam podem virar bolsas e mochilas; brinquedos perdidos ou esquecidos na praia, estando em bom estado, são doados para creches; ferro e alumínio das cadeiras de praia são doados para um morador de Penha que vende os resíduos como fonte de renda; roupas são transformadas em bolsas e porta copos…

As garrafas pet viram brinquedos como bilboquês coloridos; madeiras em tabuleiros de jogos; resíduos em geral, transformados em artes e utilizados em palestras; e tampinhas plásticas em jogos e também são doadas para a ONG Adote Penha e Agarra Patas (Blumenau).

Doca: dando o seu recado

Dois óculos de mergulho, tampinhas plásticas, uma garrafa de suco, uma bola de estopa, fiapos de cordas de nylon, pedaços de madeira. Juntando esse material cuidadosamente está pronto o Doca, a mascote do Projeto “Coza Mash Quirida”. Com olhos bem abertos ele recebe vida nas ações educacionais e recreativas do Projeto.

Inspirado em um pescador com as mãos calejadas pelo remo, Doca também é um misto de vigia do meio ambiente e a soma dos novos tempos.

Oceano Sem Lixo

Coza Mash Quirida – “Oceano Sem Lixo” – participou em maio deste ano do 1° Seminário Catarinense Para o Combate ao Lixo no Mar, CIC (Centro Integrado de Cultura, em Florianópolis. Esteve presente em junho deste ano, com a exposição, na Festa Raízes de Taquaras, em Balneário Camboriú; em julho na Escola Maria da Glória Pereira, em Balneário Camboriú no projeto “Um mergulho nas Águas do Rio Camboriú “, com a Exposição “Oceano Sem Lixo”.

Também neste mês no Coletivo de Educação do Sintraseb, em Blumenau, abordando os impactos das ações humanas nos oceanos; participou do Junho Verde 2025 na Escola Zulma Souza da Silva, em Blumenau; no dia 8 de Junho, Dia Mundial dos Oceanos fez uma ação na Praça Almirante Tamandaré em Balneário Camboriú; outra ação Ambiental na Escola Municipal São Nicolau, em Penha, e na sede da Emasa, em Balneário Camboriú.

Além de outras ações de educação ambiental na Escola Municipal Giovania de Almeida, na praia do Estaleirinho e na Praça do Pescador na Barra, em Balneário Camboriú. Estas são apenas algumas das agendas do projeto, que cada vez ganha mais corpo e credibilidade. Também marcou presença no The Ocean Race, em Itajaí. Durante as ações o projeto leva ao mais jovens brincadeiras, caça ao tesouro e outras atividades recreativas. 

Reconhecimento na Alesc

No dia 10 de julho, Luciana e Surama participaram de uma solenidade na ALESC (Assembleia Legislativa de Santa Catarina) foram homenageadas por seus trabalhos em prol dos oceanos a frente do Projeto “Coza Mash Quirida”.

A homenagem foi proposta pelo engenheiro agrônomo, ativista e deputado estadual Marcos José de Abreu, mais conhecido como Marquito (PSOL), em celebração ao Dia Mundial do Meio Ambiente em reconhecimento especial e significativo do projeto.

Lembrando que o Coza Mash Quirida teve destaque também no Workshop Programa Bandeira Azul Brasil na cidade de Cabo Frio RJ, com as atividades promovidas em Balneário Piçarras na temporada 2024/2025.

Placas Educativas Ambiental

Coza promoveu a manutenção e reposição das placas educativas ambiental na praia da Saudade, confeccionadas pelas crianças em escolas de Penha, dentro do Programa Bandeira Azul 2024/2025. Vale lembrar, que a praia do Saudade, tem os pontos Bacia da Vovó e Praia da Saudade e certificadas pelo Programa Bandeira Azul para a temporada 2025/2026.

Mutirões de Limpeza/Ações

Além de promover palestras nas praias em que o Projeto é convidado, ações como mutirão de limpeza já foram idealizados nas praias de Penha: da Saudade, do Lucas, Vermelha, Bananal, Quilombo, Grande, Cascalho e Alegre.

Saindo da toca

Manhã de sol com forte brisa do mar. Na praia da Lola, o caranguejinho maria-farinha que estava escondidinho no seu habitat, dá as caras, ou melhor: as garras. Arregala e revira os olhos e vê: voluntários plantando mudas nativas na restinga, com objetivo de recuperar o ecossistema.

Respeitando a Restinga

Após uma grande ressaca em 2023, ocorrida em Penha, que atingiu a praia da Saudade os moradores locais se mobilizaram para restaurar a área afetada. Eles adotaram práticas de plantio de mudas nativas na restinga, escolhendo cuidadosamente espécies adaptadas às condições costeiras.

Além disso, instalaram cercas para proteger a vegetação jovem de pisoteio e outras interferências, criando um ambiente seguro para o crescimento das plantas.

Esse esforço comunitário não só facilitou a recuperação rápida do ecossistema, mas também fortaleceu o senso de responsabilidade ambiental entre os residentes, destacando a importância da ação coletiva na preservação dos recursos naturais.

Lixos encontrados

Pinos de embalagens de cocaína, chinelos, garrafas pet, óculos, latinhas, pontas de cigarro, tampinhas, latinhas, canetas, copos, isopor, canudos, guardanapos, palitos, folders, embalagens, sacos plásticos, vidros…

Plástico: garrafas, sacolas, embalagens, redes de pesca, entre outros…

Metais: latas, peças de equipamentos. Vidro: Garrafas, potes…

Outros: tecidos, madeira, materiais de construção, etc.

Através de resíduos recolhidos e transformados em arte, jogos e brincadeiras abordamos também a importância do cuidado com os oceanos, aves, tartarugas”, frisa Luciana.

Números preocupantes

Para ilustrar e dar consistência a preocupação das duas amigas do meio ambiente, da Praia da Lola e de tantas outras, o Portal Carneiro News pesquisou, buscou informações e números (que são preocupantes), juntos a várias fontes como: PMP-BS (Projeto de Monitoramento da Bacia de Santos – Univali Penha), Expedição Voz dos Oceanos (Família Schurmann), ONG Oceana, Projeto Minha Coleta (com sede no Rio de Janeiro) e do Tratado Global da ONU Contra Poluição Plástica. 

O que é lixo oceânico?

O lixo oceânico refere-se a qualquer material sólido, processado ou não, que é descartado ou abandonado no ambiente marinho, causando impactos negativos nos ecossistemas e na vida marinha. Este lixo pode ser composto por diversos materiais, com destaque para o plástico, que é o mais abundante e persistente nos oceanos. A maior parte do lixo oceânico tem origem em terra, sendo levada para os oceanos por rios, ventos e atividades humanas.

O lixo oceânico gera impactos, econômicos, sociais nos animais marinhos e ecossistemas. Especialmente o plástico, quando ingerido por animais marinhos, causa asfixia, obstrução digestiva e contaminação. Ele também altera habitats marinhos, introduz poluentes e pode causar desequilíbrios nos ecossistemas. A poluição marinha afeta atividades como pesca, turismo e pode gerar custos adicionais com limpeza e tratamento de água.

Medidas e Soluções

Ambientalistas advertem para a redução do consumo de plástico e a priorização do uso de materiais reutilizáveis e evitar o consumo de produtos com embalagens plásticas. Que haja uma gestão adequada de resíduos, que melhore a coleta, reciclagem e disposição final do lixo para evitar que chegue aos oceanos.

Campanhas de limpeza e conscientização são importantes para remover o lixo já presente, mas é necessário pesquisas científicas para poder entender a dimensão do problema e desenvolver soluções eficazes. Já é sabido que o lixo oceânico é um problema global que exige ações urgentes e coordenadas para proteger os oceanos e a vida marinha.

Voz dos Oceanos

Tudo isso impacta não apenas a vida marinha, mas atinge as populações de modo geral. O tema é tão urgente que a ONU definiu o período de 2021 a 2030 como a Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável. Acreditamos que por meio de uma grande corrente mundial do bem conseguiremos mudar juntos o cenário”, ressalta o velejador Vilfredo Schurmann, que capitaneia expedição mundial Voz dos Oceanos contra poluição dos mares.

Vale lembrar, que com o apoio global do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e com a finalidade de sensibilizar a população mundial a respeito do lixo nos oceanos, especialmente os plásticos, toda a Família Schurmann – Vilfredo, Heloisa e os filhos Pierre, David e Wilhelm já realizaram três voltas ao mundo nos últimos 37 anos a bordo do veleiro Kat.

Heloisa afirma que com urgência é necessário realizar jornadas educativas, que incluem criação de materiais educativos e gamificação; oficinas de formação com estudos sobre oceanos, resíduos e sustentabilidade, e proposta de inclusão transversal e transdisciplinar da temática no currículo escolar.

É muito triste saber que tantos animais morrem diariamente ao ingerirem plástico, incluindo tartarugas, baleias e aves marinhas. Afinal de contas, cerca de oito milhões de toneladas de plástico chegam aos oceanos todos os anos. E, se não apostarmos em medidas de contenção, a situação ficará ainda mais grave, podendo triplicar esse volume até 2040. Precisamos mudar de atitude o mais rápido possível”, aponta Heloisa Schurmann, que ao lado da família é defensora da campanha Mares Limpos do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.

Saindo da toca

Manhã de sol com suave brisa do mar. Na praia da Lola, o caranguejinho maria-farinha que estava escondidinho no seu habitat, dá as caras, ou melhor: as garras. Arregala, revira os olhos e vê: uma bituca de cigarro. Coitadinho: sem saber que é uma substância tóxica, agarra com força e sem pestanejar leva a xepa para sua toca. Aloja no seu lar o filtro contaminado como se fosse um troféu.  

Microplástico não é alimento

De acordo com a equipe da Unidade de Estabilização de Animais Marinhos (Univali Penha) base que atua no Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS), o lixo descartado de forma inadequada no oceano segue fazendo mais vítimas e colocando em risco a vida de diversas espécies.

Uma das maiores incidências são os microplásticos, em especial, representam um grande risco, pois são partículas menores que 5mm, facilmente confundidas com alimento por diversos animais marinhos.  

Um exemplo trágico foi o resgate de uma tartaruga no dia 17 de janeiro deste ano na Praia do Mariscal, em Bombinhas. No dia seguinte ao resgate, a tartaruga defecou resíduos sólidos, incluindo fragmentos de plásticos rígidos e flexíveis. A ingestão desse tipo de material é extremamente prejudicial à saúde dos animais marinhos, colocando em risco a vida de diversas espécies.

De acordo com a veterinária Tiffany Emmerich, os plásticos que vão parar no oceano muitas vezes são confundidos com alimentos pelas tartarugas e, ao serem ingeridos, podem causar sérios danos à saúde, levando a quadros clínicos graves ou até mesmo à morte.

Outro caso registrado recentemente na unidade foi da ave marinha pardela-de-bico-preto (Puffinus gravis), macho juvenil, onde passou por triagem e exame clínico. De acordo com a avaliação veterinária, o animal estava magro, pesando 550g, desidratado e com mucosas ocular e oral pálidas. Apesar dos cuidados veterinários, a ave não resistiu e morreu. Foi realizado o exame de necropsia para avaliar as condições de saúde e a causa da morte. Durante a análise, ao conferir o conteúdo estomacal, uma trágica surpresa, foram encontrados muitos resíduos sólidos no estômago. Dos 550g do peso total da ave, 7g eram de lixo, o equivalente a 1,3% do peso do animal. Isso mesmo, 1,3% do peso era lixo. 

Fizemos as contas aqui, e, se uma pessoa de 60 kg tivesse 1,3% de seu peso só de resíduos sólidos, isso equivaleria a 780g. Já imaginou ter quase 800g de plástico no estômago? Os resíduos ingeridos podem causar obstrução do trato digestivo, úlceras e até desnutrição”, explica Tiffany.  

Esse é mais um caso que reflete um problema crescente que afeta a fauna marinha em todo o mundo, o impacto devastador do plástico nos oceanos. Estima-se que cerca de 8 milhões de toneladas de plástico sejam despejadas nos oceanos anualmente, prejudicando não apenas os ecossistemas marinhos, mas também os seres humanos, que também já estão ingerindo microplásticos presentes nos alimentos e na água. 

O caso do Puffinus gravis é mais um grave exemplo de como a poluição por plástico e nosso estilo de vida tem afetado as espécies que dependem dos oceanos para sobreviver.

Tiffany lembra ainda um caso preocupante. Ela ilustra que os pardela-de-bico-preto fazem parte da ordem dos procelariformes, que inclui albatrozes, petréis e pardelas, são espécies têm um olfato mais aguçado que as outras aves. “Elas são atraídas pelo cheiro do dimetilsulfureto (DMS), um composto bioquímico volátil fortemente ligado à decomposição das carcaças, que fazem parte da dieta destas aves. Acontece que hoje já se sabe que plásticos comuns começam a emitir o mesmo gás após ficarem dispersos no oceano, o que acaba confundindo e atraindo a ave. Em outras palavras, elas são diretamente atraídas pelo cheiro do plástico”, explica Tiffany.

Oito milhões de toneladas de plástico

Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), o excesso de plástico no planeta se tornou um dos maiores desafios ambientais do século. Todos os anos, cerca de 8 milhões de toneladas de resíduos plásticos chegam aos oceanos. A produção global, atualmente em torno de 400 milhões de toneladas anuais, pode quase triplicar até 2050, se nenhuma medida for tomada. Apesar disso, menos de 10% de todo o plástico produzido é reciclado corretamente.

O Brasil, por exemplo, despeja cerca de 1,3 milhão de toneladas de plástico nos oceanos todos os anos, segundo relatório da ONG Oceana, ocupando a oitava posição entre os maiores poluidores plásticos do mundo e liderando esse ranking na América Latina. Em escala global, a produção anual já ultrapassa 430 milhões de toneladas, sendo que dois terços desse volume se transformam rapidamente em resíduos.

“O maior desafio não é só ensinar a separar o lixo, mas garantir que ele seja coletado e destinado de forma correta. A logística reversa precisa funcionar em todas as etapas e é aí que muitas cidades ainda falham”, afirma Eduardo Nascimento, CEO da Minha Coleta, startup especializada em gestão de resíduos e rastreabilidade, com sede no estado do Rio de Janeiro.

Tratado quer reduzir em 90% o plástico mal descartado

Regras globais que abrangem todo o ciclo de vida do plástico podem gerar uma economia de US$200 bilhões aos cofres públicos entre 2026 e 2040. Uma pesquisa encomendada pela Coalizão Empresarial por um Tratado Global para os Plásticos e elaborado pela consultoria Systemiq reforça a urgência para a conclusão da negociação, que tem potencial de conceber o maior acordo desde o Acordo de Paris, de 2015.

Segundo o estudo, se nada for feito agora a quantidade de resíduos plásticos mal gerenciados vai praticamente dobrar até 2040, enquanto o volume total de resíduos plásticos gerados deve aumentar em 68% até o mesmo ano. Além disso, a demanda por plástico virgem deve crescer até 50% em relação aos níveis de 2019.

Entretanto, a pesquisa mostra que, com regras globais endereçando o ciclo de vida completo do plástico, o volume anual de plástico mal gerenciado pode diminuir em 90% até 2040, além de reduzir a demanda por produção de plástico virgem em 30% do mesmo ano, em comparação com 2019, ao limitar o uso desnecessário e adotar design para reciclagem e modelos de negócios circulares.

Estamos novamente diante de um momento decisivo para o futuro do planeta. O acordo não só auxiliará no combate eficaz à poluição plástica, mas também trará ganhos econômicos superiores a 200 bilhões de dólares nos gastos públicos entre 2026 e 2040. Isso é especialmente importante considerando que os custos da gestão de resíduos, por exemplo, correspondem a 10 a 20% dos orçamentos dos municípios em países de baixa e média renda, como o Brasil”, afirma Luisa Santiago, Diretora Executiva da Fundação Ellen MacArthur na América Latina.

Saindo da toca

Manhã de sol com forte brisa do mar. Na praia da Lola, o caranguejinho maria-farinha que estava escondidinho no seu habitat, dá as caras, ou melhor: as garras. Arregala os olhos e aguarda ações com investimentos contínuos em infraestrutura e tecnologia para o tratamento de esgoto.

Aegea promove ações para preservar o meio ambiente

A Aegea de Santa Catarina vem reafirmando seu compromisso com a preservação dos oceanos por meio de investimentos contínuos em infraestrutura e tecnologia para o tratamento de esgoto. Em todo o país, a companhia está presente em cerca de 50 municípios costeiros e, somente em 2024, tratou o equivalente a 53 mil piscinas olímpicas de efluentes nessas localidades, evitando que resíduos e poluentes cheguem ao mar.

Esse trabalho resulta em impactos diretos e positivos na biodiversidade marinha. Em regiões como a Lagoa de Araruama (RJ), o retorno de cavalos-marinhos e o aumento de 26% no volume de pesca são exemplos concretos dos benefícios do saneamento adequado. Na Baía de Guanabara e na Lagoa Rodrigo de Freitas, a população de golfinhos, raias e tartarugas voltou a crescer.

Em Santa Catarina, as concessionárias da holding – Águas de Penha, Águas de São Francisco do Sul, Águas de Camboriú, Águas de Bombinhas e Águas de Palhoça – também têm papel fundamental nesse esforço. Focadas no desenvolvimento sustentável dos municípios, as empresas atuam com o objetivo de universalizar tanto o abastecimento, quanto os serviços de esgotamento sanitário das cidades.

A saúde dos oceanos e rios começa no cuidado com a água que devolvemos ao meio ambiente. Nosso trabalho é garantir que ela volte limpa e sem poluentes, beneficiando não só a biodiversidade, mas também as comunidades costeiras”, comenta a presidente das empresas, Reginalva Mureb.

Gota-a-gota

A história do beija-flor apagando o incêndio é uma fábula que serve como metáfora para a importância de cada um fazer a sua parte, mesmo que pareça insignificante, para resolver um problema maior. Na história, um incêndio assola uma floresta, e enquanto os outros animais fogem, um beija-flor tenta apagá-lo, levando pequenas gotas de água em seu bico. Apesar de parecer inútil, a ação do beija-flor serve de inspiração para os outros animais se unirem e combaterem o fogo juntos.

A fábula do beija-flor nos ensina várias lições como a importância da ação individual, mesmo que pareça pouco, cada um pode contribuir para resolver um problema e não desistir diante das dificuldades.

O beija-flor não desistiu mesmo diante de um incêndio tão grande, mostrando que a perseverança é fundamental. A ação do beija-flor inspirou outros animais a se unirem e, juntos, conseguiram apagar o incêndio. A fábula lembra que a responsabilidade de que cada faça a sua parte, não importa quão pequena ela seja.

A história do beija-flor apagando o incêndio é uma mensagem de esperança e motivação para todos, mostrando que, com determinação e união, é possível superar grandes desafios.

E como o beija-flor da fábula, as “pescadoras” Luciana e Surama ensinam que cada um pode contribuir para resolver um problema e não desistir diante das dificuldades.

Saindo da toca

Manhã de sol com forte brisa do mar. Na praia da Lola, o caranguejinho maria-farinha que estava escondidinho no seu habitat, dá as caras, ou melhor: as garras. Arregala, revira os olhos e ainda vê muito lixo no seu quintal…

Fonte Original | Carneiro News

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