Mineiração Nilson
Marina da Glória

Conto – Destemperança

Bati o portão e saí à procura da tabacaria no final da rua. Com meu sapato marrom de salto, verifiquei o dinheiro na bolsa porque nessa tabacaria não tinha a maquininha de cartão

Bati o portão e saí à procura da tabacaria no final da rua. Com meu sapato marrom de salto, verifiquei o dinheiro na bolsa porque nessa tabacaria não tinha a maquininha de cartão. O dono, um advogado das antigas, era professor da faculdade da cidadezinha. Bem humorado, inteligente, elegante com seu cachimbo de marfim, presa de elefante, com entalhes perfeitos, parecia luxuoso. Agora, já aposentado, vivia de sua arte, a de seduzir e encantar todas as pessoas que passassem por lá. Todo tipo de gente frequentava àquela tabacaria, homens elegantes e eloquentes como garotada que parava para comprar cigarros soltos e conversar um pouco com o sábio homem.  Poderia ser uma barbearia, mas era uma tabacaria. A cidade é pequena como o velho pequeno de suspensórios coloridos e gravatas combinando. Andei poucos metros que pareciam km. A rua estreita de pedras irregulares causava sensação de desconforto e exaustão.

Era uma manhã de verão, quente, úmida e também destemperada.   Tudo colaborava para a perda de paciência. Entretanto, não perco a paciência, coisa que preso tanto, em busca de uma carteira de cigarros. Não era cigarro comum, não se encontrava em qualquer boteco. Talvez quisesse parecer charmosa com ele entre os dedos, baforando a fumaça com cuidado, pois não me permitia perder a pose. Para a minha surpresa e a surpresa de todos, a tabacaria estava fechada e com um crucifixo na enorme porta de madeira talhada, retratando um homem com seu objeto ancestral a procura de caça. Nela, o bilhete escrito LUTO. Tive a sensação de estar em outro lugar, em outro tempo um tempo que não sabe contar e que demora pra te encontrar e nem desconta as nossas contas.

Será o grande homenzinho de suspensórios coloridos e gravatas combinando que se foi? Afinal, morreu de que? Por que e para quê morrer agora? Tinha tantas perguntas a fazer a ele.  Num gesto de destemperança, perdi a paciência e joguei no chão o último cigarro que tinha e com o pé enfiado no sapato marrom, o amassei e quanto mais amassava, perdia minha suavidade. Meu corpo parecia tremer, meu estomago enjoava e quanto mais pisava no cigarro, um gosto amargo surgia em minha na boca. Seria a falta da nicotina, talvez? Ainda sonho com a última tragada.

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