Ataque em Blumenau – Saiba tudo

o Portal nos Bastidores do Pier traz as informações completas sobre o ataque em uma creche na cidade de Blumenau/SC
Ataque Blumenau

Após atacar as crianças, homem de 25 anos foi de moto até o 10º Batalhão de Polícia Militar e se entregou

Um homem chega em uma moto. Tira o capacete e procura a portaria do 10º Batalhão da Polícia Militar (10º BPM), em Blumenau. Com celular e documentos em mãos, o homem de 25 anos diz aos policiais:

– Quero me entregar por algo que eu fiz.

Questionado pelos policiais sobre o motivo, respondeu de forma enigmática:

– Já, já, vocês vão saber.

O relato é de um dos policiais militares que atendeu o homem que matou quatro crianças e deixou ao menos outras cinco feridas na manhã desta quarta-feira (5) após atacar uma creche no bairro Velha, em Blumenau. 

De acordo com o policial, o autor do ataque não tinha manchas de sangue, não portava nenhuma arma e não demonstrava nenhuma emoção, como choque ou arrependimento.

O homem foi detido e encaminhado para a Central de Plantão Policial (CPP), no bairro Itoupava Norte, para as devidas providências legais. Por lá, ficou em silêncio durante o depoimento aos agentes. 

Do lado de fora, dezenas de pessoas se aglomeravam em frente à delegacia. Entre eles, um homem chamava a atenção pelas constantes ligações telefônicas que recebia. Tratava-se do empresário que emprega o autor do ataque. Ele contou que o homem trabalha como entregador de bebidas há um ano e sete meses. 

De acordo com o empresário, a moto utilizada pelo assassino no ataque pertence à empresa e que ele estava utilizando para trabalhar há algum tempo, pois a moto dele estaria estragada. Por conta disso, o empresário procurou as autoridades, para dar os devidos esclarecimentos.

Entenda o caso

Um homem de 25 anos invadiu uma creche em Blumenau e matou quatro crianças na manhã desta quarta-feira (5), segundo a PM. O assassino teria chegado em uma moto, pulou o muro e atacou com uma machadinha os estudantes que estavam em um parque nos fundos da unidade.

O responsável pelo ataque foi preso na sequência, ao se entregar no Batalhão da Polícia Militar.

O crime ocorreu no Centro de Educação Infantil Cantinho Bom Pastor, localizado na Rua dos Caçadores, bairro Velha. Uma quinta criança foi levada ao Hospital Santa Isabel e outras quatro que também tiveram ferimentos foram encaminhadas ao Hospital Santo Antônio. A unidade de saúde confirmou que recebeu os pequenos “de três a cinco anos”.

A menina levada ao Santa Isabel tinha um machucado no ombro, foi atendida e liberada. As outras quatro crianças de 5 e 3 anos não correm risco de morte. Elas seguem hospitalizadas.

Estado das Crianças hospitalizadas

Uma das crianças que foi ferida durante o ataque a creche em Blumenau, nesta quarta-feira (5), e estava em um hospital do Vale do Itajaí, deixou a unidade hospitalar e está em casa. Outras quatro vítimas passaram por procedimentos, continuam sob monitoramento de equipes de saúde e aguardam alta.

A criança que já foi para casa foi atendida no Hospital Santa Isabel e foi levada ao local pelos pais. Os responsáveis perceberam que a criança apresentava ferimentos depois de buscá-la na creche.

Outros quatro alunos do Centro de Educação Infantil Cantinho Bom Pastor estão no Hospital Santo Antônio acompanhados dos pais. São duas meninas de cinco anos, um menino de cinco anos e um menino de três anos. De acordo com o hospital, eles receberam suturas, mas precisaram passar por anestesia geral pois estavam em choque. O estado de saúde deles é estável.

Uma dessas crianças teve um ferimento mais grave no pescoço e precisou receber transfusão de sangue. O procedimento foi bem sucedido e o paciente está bem.

Por volta das 19h desta quarta, os pequenos estavam na enfermaria. As crianças e os pais são acompanhados pelo serviço multidisciplinar da unidade, segundo o hospital. A expectativa é que os pacientes sejam liberados amanhã.

Velório

As quatro crianças que morreram em ataque a uma creche de Blumenau estão sendo veladas nesta quinta-feira (6), em Blumenau, no Vale do Itajaí. Três velórios estão sendo realizados no mesmo local, mas o endereço não será divulgado em respeito às famílias.

As vítimas são Bernardo Cunha Machado, de 5 anos, Bernardo Pabst da Cunha, 4, Larissa Maia Roldo, 7 e Enzo Marchesin Barbosa, 4.

O caso foi considerado “isolado” pelo delegado-geral Ulisses Gabriel, durante coletiva de imprensa:

— Tudo indica que é um fato isolado. Não tem relação com outras práticas criminosas e não é um fato coordenado, seja por jogo, seja por rede social, seja através de conversas e negociações entre criminosos — disse o delegado.

Vigília

Pais de estudantes e a comunidade prestam homenagem em frente à creche alvo de ataque nesta quarta-feira (5), em Blumenau. Na vigília, pessoas têm deixado velas e flores diante do imóvel no bairro Velha enquanto rezam.

O ataque ao Centro de Educação Infantil Cantinho Bom Pastor, na Rua dos Caçadores, provocou um clima de comoção geral em Blumenau. No começo desta noite, pedestres se reuniram diante do educandário para deixar velas, flores e incensos. A ação deve se estender pela noite e próximos dias.

Em um dos momentos nesta noite, de mãos dadas em uma roda, as pessoas rezaram pelas vítimas e famílias. Mariana Ludwig, coordenadora pedagógica da Escola Alberto Stein, foi até o local para participar da homenagem.

Como lidar psicologicamente

Cuidado profissional, acolhimento e sinceridade com os sentimentos. Essas são as sugestões da psicóloga Catarina Gewehr sobre como os envolvidos do ataque a creche de Blumenau podem amenizar a dor após o caso, principalmente para as famílias das quatro crianças que morreram.

Moradora da cidade, ela diz que apesar de todos serem impactados, a atenção para superar os traumas deve ser redobrada entre as crianças. Apesar da dificuldade em explicar a situação, a psicóloga afirma que, ao lidar com crianças até um ano e meio, é necessário manter a rotina de alimentação e higiene e a tranquilidade. Já a partir dos dois anos é possível usar palavras, não inventar histórias e conversar com calma. 

— Criança é feita de percepção, isso vai organizar o comportamento dela. Tudo precisa ser dito com acolhimento, “olho no olho”. Caso o adulto chore, explicar que é uma situação triste, nunca dizer que é “nada” — destaca. 

Para as crianças que presenciaram o crime, Catarina diz ser importante o retorno à escola com questões sentimentais.

— Se está triste, sugere fazer um desenho, por exemplo. Se elas estão brabas, precisam falar sobre. Também é necessário que os adultos exponham o que sentem para as crianças mais velhas que passaram por casos como este — analisa. 

Após a tragédia, a psicóloga ressalta que a creche Cantinho Bom Pastor deve promover formas de celebrar a vida e a memória de quem estudou no local, ressignificando o espaço com novas cores,  promover círculos de cuidados e diálogos com familiares que perderam uma criança. 

— É importante que o espaço demonstre efetivos de segurança para todos, mas no campo das emoções é necessário um trabalho de reorganização das expressões sobre o acontecido. São esses processos que ajudam a passar por esses momentos dilacerantes — aponta. 

Ainda conforme a profissional da área de saúde mental, não basta colocar um policial armado, câmeras e cercas elétricas, é necessário que pais, responsáveis e educadores pensem em projetos relacionados à infância. 

— Uma boa alternativa é aumentar a cooperação e o compromisso comunitário com a instituição. Não deixar que casos como esse mantenham o sentimento de medo no local — pensa. 

Impacto em toda cidade

Para Catarina Gewehr, experiências de ataques como a de hoje geram sentimentos de desolação nas pessoas.

— Blumenau está um silêncio. Não é normal nem para o horário, nem para o dia da semana. É um peso, uma sensação de que algo muito irregular aconteceu — conta.

Nas crianças, conforme ela, o fato causa impasses primeiro na linguagem, sendo que a percepção delas é alterada conforme o adulto repassa a informação, mesmo entre as que presenciaram o crime. 

— Geralmente, o adulto chora e dá resposta sem nexo para criança. É necessário entender que é legítimo estar triste, necessário manifestar, não fingir que está tudo bem. Assim, as crianças tendem a superar de maneira melhor casos devastadores como o ataque à creche — explica. 

“Serão muitos ciclos de perda de força”, diz psicóloga

Conforme a profissional, é normal que a população sinta desolação nos próximos períodos, sentindo tristeza, raiva, depois querer justiça, em seguida pensar o que poderia ter feito para evitar e, em seguida, novamente tristeza. 

— Serão muitos ciclos de perda de força. Todos os envolvidos vão precisar de ajuda profissional até que a situação perca a força de tirar a força das vítimas. Esses acontecimentos impactam por muito tempo — lamenta. 

Catarina reforça ser necessário que o país pense em ferramentas e políticas públicas com objetivo de promover uma cultura de paz, de diferenças e de valorização da vida, em vez de promoção de ideias a favor de armas, por exemplo. 

— Produzir um enfrentamento pela vida, mudar perspectivas que nos últimos tempos tiveram muito valor: a cultura bélica, “do que eu quero e o outro que se aguente”. É preciso desenvolver um pensamento coletivo, de que valor primordial da vida seja o cuidado com todos os cidadãos — finaliza.

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